Pessoas com mais de 60 anos
estão sendo relegadas pelo comércio on-line
Paula Coura
“ANTENADO” – Rogério de Souza, 62 anos, não larga mais o computador e
faz compras para o trabalho e para a casa pela internet; praticidade e melhores
preços são principais atrativos
O tempo hoje é de estar conectado ao mundo virtual. Mas os consumidores
da terceira idade são um filão ainda pouco explorado pelas empresas de vendas
on-line. Apenas dois em cada dez idosos fazem compras pela internet, segundo
estudo feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo
Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPC).
O levantamento foi realizado com pessoas acima de 60 anos em todas as
capitais brasileiras e no Distrito Federal (DF). O número, conforme a entidade,
pode crescer, já que a internet está deixando de ser “um bicho de sete cabeças”
para esse público.
Oportunidade de explorar o novo, praticidade e preços mais em conta são
alguns dos pontos apontados por quem tem mais de 60 anos e já não quer mais
largar o ambiente virtual.
“A população está envelhecendo, e as lojas não estão aproveitando bem o
meio digital. Ainda são poucos os estabelecimentos que têm complemento da loja
física com redes sociais como Instagram, Facebook e até mesmo site”, avalia
Marco Antonio Gaspar, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo
Horizonte (CDL-BH).
Ele também explica que ainda parte do público mineiro é mais “arredio a
mudanças” e é preciso explorar os vários canais de divulgação que a tecnologia
pode oferecer. “Falta às empresas entender a internet como uma oportunidade de
alavancar os negócios e também pensar na terceira idade como um grande filão.
Não é uma coisa tão nova assim o meio digital. Minha mãe com 73 anos compra
muito on-line”, afirma ele.
Rogério de Souza Magalhães, de 62 anos, já não consegue viver sem as
compras no ambiente virtual. Ele trabalha em uma empresa de equipamentos para
manutenção de estradas ferroviárias na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Com o dia agitado, sai diariamente de Mateus Leme para trabalhar em
Betim, numa distância de cerca de 50 km entre as cidades. Para não perder
tempo, percebeu na internet uma maneira prática de buscar artigos que demandam
tempo e deslocamento às lojas físicas. Há quatro anos não larga o computador
para buscar ferramentas, produtos para casa e até viagens. “Pesquiso de tudo, às
vezes no trabalho mesmo porque é muito mais prático e sai bem mais barato”,
revela Magalhães.
Preferências
Quem tem mais de 60 anos prefere comprar on-line eletroeletrônicos, eletrodomésticos e viagens, de acordo com a pesquisa, que mapeou os hábitos de consumo dos idosos. Navegar já é hábito de 27,1% dos entrevistados, que também usam as redes para se comunicar com a família (62,9%).
Para Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, a pesquisa mostra
que 20% da população idosa no Brasil está se adequando a fazer compras on-line,
e que esse mercado ainda tem muito a crescer. “Sabemos que, no geral, os idosos
têm menos afinidade pela tecnologia. Também podemos perceber que as lojas,
muitas vezes, não apresentam seus produtos de maneira mais clara, que poderia
ajudar esse público”, diz.
Compras ainda podem ‘assustar’ por causa de dados do cartão
Estima-se que 70% dos idosos brasileiros sejam independentes
financeiramente, segundo estudos divulgados pelo Sebrae. Mas, mesmo com o poder
de tomar decisões financeiras, muitos deles têm receio em embarcar no mercado
digital. Alguns sites de compras não são claros e a hora de passar os dados do
cartão de crédito ainda gera insegurança.
Esse é o caso de Nely Rodrigues Mendes, de 76 anos. Ela ajuda bastante a
filha em um negócio de festas. É uma usuária constante do notebook que tem em
casa e, pela internet, já comprou livros, doces, salgados e vários artigos de
decoração.
Uma das últimas aquisições da aposentada foi um curso de crochê. Mas, na
hora de repassar os dados do cartão de crédito ou débito, ainda pede ajuda para
a neta.
“Ainda fico insegura porque é um pouco difícil. Minha neta me ajuda. Eu
a chamo bem na hora de inserir esses dados. Mas, acho que agora, depois de
vê-la fazendo várias vezes, já dou conta de fazer todo o processo sozinha”,
relata a aposentada Nely.
Não só para jovens
Para a economista Marcela Kawauti, do SPC Brasil, há na internet a falsa sensação de que todos os produtos são para jovens e isso pode acabar afastando a terceira idade do mundo virtual.
E ela é uma grande defensora de que as empresas mudem as estratégias
pensando também nesse público acima de 60 anos.
“Os sites precisam ser mais amigáveis para quem vai usá-los e não se deve
pensar apenas em quem é mais jovem. Por que isso? Diversidade também é
essencial. Alguns produtos, por exemplo, como roupas para quem tem mais de 50
anos, são difíceis de serem achados pela internet. É um grande mercado e o
setor está perdendo este grande filão”, avalia a economista do SPC Brasil.
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